domingo, 23 de setembro de 2007

Despedida

Despedidas nunca foram agradáveis para ele. Mas afinal, para alguém o é? Ele já nem podia mais responder a essa pergunta. Apenas podia afirmar que, em certos momentos, elas eram necessárias. E ele encontrava-se justamente em um destes raros e desagradáveis momentos.

Como diria para sua mãe, que iria para tão longe? Como lidaria com a reprovação de seu pai? Com que olhar encararia seu cachorro? Com que doces palavras enxugaria as lágrimas de seu grande amor?

Ele não podia... E sabia disso. Por mais que pudesse se esforçar, nunca diria tudo o que era necessário. As palavras lhe prenderiam a garganta, e o choro, lhe turvaria a visão.

Lembrou-se dos pequenos detalhes. De fazer sua cama, e tirar sua escova-de-dentes do armário do banheiro. Sua mãe não merecia ter que arrumar suas coisas depois que ele partisse.

E meio à suas pequenas coisas, encontrou muitas lembranças. Nunca poderia dizer como se sentiu bem, toda vez que sua mãe lhe dera um de seus beijos medicinais, ou ainda, quando seu pai, mesmo cansado, o acolhia em sua cama quando na presença de maus um de seus pesadelos. Não poderia expressar todo o contentamento pela companhia do pequeno animal, nos dias mais chuvosos de sua vida, muito menos, como se apaixonou com aquele primeiro sorriso.

Ele não podia dizer, mas podia escrever. E num pequeno pedaço amassado de papel, escreveu tudo o que desejava falar, e terminou num belo e grande ‘adeus’.

Ele já podia partir. Apertou mais uma vez então o nó em volta de seu pescoço, para finalmente jogar-se daquele banco.

Colaba

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