terça-feira, 28 de abril de 2009

Liberdade

É Deus, parece que vai ser nós dois até o final...


Minha música preferida do Marcelo Camelo.

Simplesmente resumo ela como PERFEITA...


Liberdade
(Marcelo Camelo)

Perceber aquilo que se tem de bom
No viver é um dom, daqui não
Eu vivo a vida na ilusão
Entre o chão e os ares vou
sonhando em outros ares vou
Fingindo ser o que eu já sou
Fingindo ser o que eu já sou
Mesmo sem me libertar eu vou...
É Deus,
Parece que vai ser nós dois até o final
Eu vou ver, o jogo se realizar
de um lugar seguro
Seguro
De que vale ser daqui?
De que vale ser daqui?
Onde a vida é de sonhar
Liberdade...




(...)

Welcome to the New World... Enjoy your Freedom...

Retrato Pra Iaiá

Foto: http://xxangelicfruitcakexx.deviantart.com/art/Frame-Of-Mind-28904169#
(Los Hermanos)


Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade
Pois é que assim, em ti, eu me atirei e fui te encontrar
pra ver que eu me enganei.

Depois de ter vivido o óbvio utópico - te beijar -
e de ter brincado sobre a sinceridade
e dizer quase tudo quanto fosse natural...
Eu fui praí e ver, te dizer:

Deixa ser
Como será quando a gente se encontrar?
No pé, o céu de um parque nos testemunhar
Deixa ser como será! Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.

De perto eu não quis ver que toda a anunciação era vã.
Fui saber tão longe - mesmo você viu antes de mim -
que eu te olhando via uma outra mulher.
E agora o que sobrou: Um filme no close pro fim.

Num retrato-falado, eu fichado exposto em diagnóstico.
Especialistas analisam e sentenciam:
"Deixa ser como será. Tudo posto em seu lugar".
Então tentar prever serviu pra eu me enganar.
Deixa ser. Como será.
Eu já posto em "meu lugar"...
Num continente ao revés, em preto e branco, em hotéis.
Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Você Amigo // Sou Amigo

Foto: http://omertohka.deviantart.com/art/Friendship-113316037

Você é um amigo precioso, // Sou apenas alguém

homem com jeito de menino, // que vive cada momento.
até faz manha, dengoso. // Sou amigo, carinhoso.

Você é amigo de verdade, // Minha amizade é sincera.
quando está perto é aconchego, // Não importa a distância.
quando longe é saudade. // Sou amigo, atencioso.

Você é um amigo poeta, // Poeta, é você quem diz!
de versos encantadores, // Meus versos, às vezes tristes,

rimas perfeitas, de amores. // se perdem pelo ar.

Você é meu amigo querido, // Sou amigo, sou querido.
sei que seu afeto é meu, // Por ti, tenho admiração.
Sabe que meu carinho é seu. // Sou amigo, sou canção.

Você é meu amigo amado, // Alegra-me, sua afirmação.

diminui sempre os beijos, // Beijos e abraços são carícias

economiza e muito, os abraços. // que enleva o coração.

Você é meu amigo da tela, // A tela é meu recanto.

dia ou noite encontro nela, // Nela, estou sempre a navegar.
Pra mim vem escrever. // Um poema, aqui quero deixar.

É com alegria imensa, // Você é sempre bem vinda

teclar no calor ou frio. // para comigo sonhar.
Tendo a sua companhia, // Faça sol ou faça chuva,
é festejar a vida, é viver. // um dueto vamos formar.

Neuza Maria // Wilson Carlos

sábado, 25 de abril de 2009

I Walk Alone


Foto: http://nunoramos0.deviantart.com/art/alone-63105310


Finalmente percebi que para ser o que sou, devo sempre caminhar sozinho....

E o melhor disso tudo é que quando estou sozinho me sinto "em casa"...


quarta-feira, 22 de abril de 2009

It's Amazing

Foto: http://jaicca.deviantart.com/art/Take-Me-Home-117782789

Surpreendente, Maravilhoso... Esse feriado prolongado foi perfeito. Do tipo que quando chega na terça a noite, todos se olham e perguntam: "Porque acabou rápido?"...

Quando saímos no sábado no início da tarde para visitar o MAES (museu de arte do Espírito Santo), que recebe a mostra intinerante "Andy Warhol - Artes e Práticas para o dia a dia", eu não imaginava que terminaria a terça-feira tão satisfeito.

Abrindo um parênteses para explicar o que é essa mostra
("A proposta da mostra é abordar a vida e obra do artista, cineasta, fotógrafo, pintor, ilustrador comercial, produtor musical, escritor e até modelo (ufa...), por meio de um enfoque especial sobre essas práticas de reinvenção do cotidiano.").

Retomando...


Na volta, agregando novas pessoas, montamos uma roda de amigos no Bar Abertura. Bom? Demais... Assuntos a mil, discussões inesperadas e como sempre muita descontração. Terminando com o épico: "Preciso ir embora agora!!!!"

Acordei no domingo ao fim da manhã... ou era cedo? Agora não lembro. Lembro sim de me arrumar rapidamente para um churrasco, novamente, de amigos. Ninguém até agora sabe o que estávamos comemorando, mas no final demos o crédito para as vitórias de Flamengo e Corinthians. Esta "comemoração" tomou todo o domingo, mas mesmo assim quando cheguei em casa ainda fui conversar com duas outras pessoas. Finalizando com mais uma madrugada viva.

A segunda? Ah!! Segunda... Dois aniversários. O primeiro, era uma festa em um "clube" em Vitória, o famoso churrasco com bebida, futebol, piscina e muita gente descontraída. Impossível ser ruim. O segundo, um Luau na praia que durou até o sol raiar, daqueles com uma grande roda, regada de frutas, vinho, violão e música boa... Quando dormi fiquei com a sensação de que a segunda era um Guepardo e eu desejando que fosse uma tartaruga.

A terça começou silenciosa. Todos precisavam recarregar as baterias, eu mesmo acordei ao fim da manhã e ainda cansado. Pensei em descansar um pouco mais, mas lembrei que ainda devia uma visita a dois amigos. Então eu e Thiago começamos a peregrinação...

Com uma ótima refeição (porém nada nutritiva), em uma lanchonete terminei o meu domingo. Fui dormir cedo, talvez não o sonho dos justos, mas com certeza o sonho dos satisfeitos...


Homenagem ao Luau:
Cowboy Fora da Lei
(Raul Seixas)

Mamãe, não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar

Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz

Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz

Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cowboy
Cowboy fora da lei
Durango kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
Entrar pra história é com vocês

Link Música: http://www.youtube.com/watch?v=23EO7sDO9Lw

Obrigado especial para os participantes desse feriado comigo:

Sábado: Raiza, Junior, Carol, Aline, Rodrigo, Mayara, Raiane e Fenelon.
Domingo: Rodrigo, Rafael, Ana, Carol, Raiza, Aline, Roberta, Nayara, Junior, Fenelon, Gastroni, Alamo, Bruna, Thiago Luiz e Mayara.
Segunda: Junior, Samyla, Aline, Gastroni, Rodrigo, Jansen, Caius, Paulinho, Fenelon, Alamo, Jackeline, Ana, Bruna, Cazuza, Yule, Galera do Churrasco e Galera do Luau.
Terça: Thiago Luiz, Leandro, Márcio e Bruna.

sábado, 18 de abril de 2009

Um Tequinho de CineVertigem

...Quem me dá, quem me dá esse destino de apólogo da miséria urbana, antropólogo do cimento, esteta da palavra moderna que brota do arrependimento; da culpa caudalosa e ancestral que vem dos holandeses tão lindos que comeram as pernambucanas nas praias do Recife quando os tubarões não chegavam e os portos não avançavam por mangues cheios de comidas... quero ser o perfeito defensor dessas causas perdidas, curar as dores das barrigas que não degustam os manjares possíveis somente aos nobres paladares dos sociólogos da corte que cortam o raciocínio em começo, os meios e os fins; tudo tem finalidade, essa a grande verdade e eu não venho aqui para defender nem para explicar, confundir é o meu lugar, lugar de 500 anos de solidão que não explicam a contradição entre o país real e o imaginário, o país original e o falsário, o país do que acontece do que podia ter acontecido se o índio não tivesse comido a banha do bispo Sardinha morto no açougue das almas, morto no azougue com palmas no auditório quase vazio de nossa história, uma história que não é contada no cinema , esse nosso dilema...

[Ricardo Soares: excerto da Cinevertigem]

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Hoje Eu Tô Sozinha


(Ana Carolina)


Hoje eu tô sozinha
E não aceito conselho
Vou pintar minhas unhas
E meu cabelo de vermelho


Hoje eu tô sozinha
Não sei se me levo, ou se me acompanho
Mas é que se eu perder, eu perco sozinha
Mas é que se eu ganhar, aí, é só eu que ganho

Hoje eu não vou falar mal nem bem de ninguém
Hoje eu não vou falar bem nem mal de ninguém

Logo agora que parei
Parei de te esperar
De enfeitar nosso barraco
De pendurar meus enfeites
Te fazer o café fraco

Parei! De pegar o carro correndo
De ligar só pra você
De entender sua família
E te compreender

Hoje eu tô sozinha
E tudo parece maior
Mas é melhor ficar sozinha
Que é pra não ficar pior

Link: http://www.youtube.com/watch?v=y_L7tMIHkuA
Foto: http://tipiijo.deviantart.com/art/Alone-66496417

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Confesso



(Ana Carolina)

Confesso acordei achando tudo indiferente
Verdade acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final

Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz

Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar teu tempo, eu já roubei demais

Tanta coisa foi acumulando em nossa vida
Eu fui sentindo falta de um vão pra me esconder
Aos poucos fui ficando mesmo sem saída
Perder o vazio é empobrecer

Não vou querer ser o dono da verdade
Também tenho saudade mas já são quatro e tal
Talvez eu passe um tempo longe da cidade
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais

Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar teu tempo, eu já roubei demais

sábado, 11 de abril de 2009

Feliz Aniversário

A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados — e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.

Tendo Zilda — a filha com quem a aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. "Vim para não deixar de vir", dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.

Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda — a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante — e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.

E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.

Zilda, a dona da casa, arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e copos de papelão alusivos à data, espalhara balões sungados pelo teto em alguns dos quais estava escrito "Happy Birthday!", em outros "Feliz Aniversário!"  No centro havia disposto o enorme bolo açucarado. Para adiantar o expediente, enfeitara a mesa logo depois do almoço, encostara as cadeiras à parede, mandara os meninos brincar no vizinho para não desarrumar a mesa.

E, para adiantar o expediente, vestira a aniversariante logo depois do almoço. Pusera-lhe desde então a presilha em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um pouco de água-de-colônia para disfarçar aquele seu cheiro de guardado — sentara-a à mesa. E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia, tesa na sala silenciosa.

De vez em quando consciente dos guardanapos coloridos. Olhando curiosa um ou outro balão estremecer aos carros que passavam. E de vez em quando aquela angústia muda: quando acompanhava, fascinada e impotente, o vôo da mosca em torno do bolo.

Até que às quatro horas entrara a nora de Olaria e depois a de Ipanema.

Quando a nora de Ipanema pensou que não suportaria nem um segundo mais a situação de estar sentada defronte da concunhada de Olaria — que cheia das ofensas passadas não via um motivo para desfitar desafiadora a nora de Ipanema — entraram enfim José e a família. E mal eles se beijavam, a sala começou a ficar cheia de gente que ruidosa se cumprimentava como se todos tivessem esperado embaixo o momento de, em afobação de atraso, subir os três lances de escada, falando, arrastando crianças surpreendidas, enchendo a sala — e inaugurando a festa.

Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que ninguém podia saber se ela estava alegre. Estava era posta á cabeceira. Tratava-se de uma velha grande, magra, imponente e morena. Parecia oca.

 — Oitenta e nove anos, sim senhor! disse José, filho mais velho agora que Jonga tinha morrido. — Oitenta e nove anos, sim senhora! disse esfregando as mãos em admiração pública e como sinal imperceptível para todos.

Todos se interromperam atentos e olharam a aniversariante de um modo mais oficial. Alguns abanaram a cabeça em admiração como a um recorde. Cada ano vencido pela aniversariante era uma vaga etapa da família toda. Sim senhor! disseram alguns sorrindo timidamente.

— Oitenta e nove anos!, ecoou Manoel que era sócio de José. É um brotinho!, disse espirituoso e nervoso, e todos riram, menos sua esposa.

A velha não se manifestava.

Alguns não lhe haviam trazido presente nenhum. Outros trouxeram saboneteira, uma combinação de jérsei, um broche de fantasia, um vasinho de cactos — nada, nada que a dona da casa pudesse aproveitar para si mesma ou para seus filhos, nada que a própria aniversariante pudesse realmente aproveitar constituindo assim uma economia: a dona da casa guardava os presentes, amarga, irônica.

— Oitenta e nove anos! repetiu Manoel aflito, olhando para a esposa.

A velha não se manifestava.

Então, como se todos tivessem tido a prova final de que não adiantava se esforçarem, com um levantar de ombros de quem estivesse junto de uma surda, continuaram a fazer a festa sozinhos, comendo os primeiros sanduíches de presunto mais como prova de animação que por apetite, brincando de que todos estavam morrendo de fome. O ponche foi servido, Zilda suava, nenhuma cunhada ajudou propriamente, a gordura quente dos croquetes dava um cheiro de piquenique; e de costas para a aniversariante, que não podia comer frituras, eles riam inquietos. E Cordélia? Cordélia, a nora mais moça, sentada, sorrindo.

— Não senhor! respondeu José com falsa severidade, hoje não se fala em negócios!

— Está certo, está certo! recuou Manoel depressa, olhando rapidamente para sua mulher que de longe estendia um ouvido atento.

— Nada de negócios, gritou José, hoje é o dia da mãe!

Na cabeceira da mesa já suja, os copos maculados, só o bolo inteiro — ela era a mãe. A aniversariante piscou os olhos.

E quando a mesa estava imunda, as mães enervadas com o barulho que os filhos faziam, enquanto as avós se recostavam complacentes nas cadeiras, então fecharam a inútil luz do corredor para acender a vela do bolo, uma vela grande com um papelzinho colado onde estava escrito "89". Mas ninguém elogiou a idéia de Zilda, e ela se perguntou angustiada se eles não estariam pensando que fora por economia de velas — ninguém se lembrando de que ninguém havia contribuído com uma caixa de fósforos sequer para a comida da festa que ela, Zilda, servia como uma escrava, os pés exaustos e o coração revoltado. Então acenderam a vela. E então José, o líder, cantou com muita força, entusiasmando com um olhar autoritário os mais hesitantes ou surpreendidos, "vamos! todos de uma vez!" — e todos de repente começaram a cantar alto como soldados. Despertada pelas vozes, Cordélia olhou esbaforida. Como não haviam combinado, uns cantaram em português e outros em inglês. Tentaram então corrigir: e os que haviam cantado em inglês passaram a português, e os que haviam cantado em português passaram a cantar bem baixo em inglês.

Enquanto cantavam, a aniversariante, à luz da vela acesa, meditava como junto de uma lareira.

Escolheram o bisneto menor que, debruçado no colo da mãe encorajadora, apagou a chama com um único sopro cheio de saliva! Por um instante bateram palmas à potência inesperada do menino que, espantado e exultante, olhava para todos encantado. A dona da casa esperava com o dedo pronto no comutador do corredor - e acendeu a lâmpada.

— Viva mamãe!

— Viva vovó!

— Viva D. Anita, disse a vizinha que tinha aparecido.

—  Happy birthday! gritaram os netos, do Colégio Bennett.

Bateram ainda algumas palmas ralas.

A aniversariante olhava o bolo apagado, grande e seco.

— Parta o bolo, vovó! disse a mãe dos quatro filhos, é ela quem deve partir! assegurou incerta a todos, com ar íntimo e intrigante. E, como todos aprovassem satisfeitos e curiosos, ela se tornou de repente impetuosa: — parta o bolo, vovó!

E de súbito a velha pegou na faca. E sem hesitação , como se hesitando um momento ela toda caísse para a frente, deu a primeira talhada com punho de assassina.

— Que força, segredou a nora de Ipanema, e não se sabia se estava escandalizada ou agradavelmente surpreendida. Estava um pouco horrorizada.

— Há um ano atrás ela ainda era capaz de subir essas escadas com mais fôlego do que eu, disse Zilda amarga.

Dada a primeira talhada, como se a primeira pá de terra tivesse sido lançada, todos se aproximaram de prato na mão, insinuando-se em fingidas acotoveladas de animação, cada um para a sua pazinha.

Em breve as fatias eram distribuídas pelos pratinhos, num silêncio cheio de rebuliço. As crianças pequenas, com a boca escondida pela mesa e os olhos ao nível desta, acompanhavam a distribuição com muda intensidade. As passas rolavam do bolo entre farelos secos. As crianças angustiadas viam se desperdiçarem as passas, acompanhavam atentas a queda.

E quando foram ver, não é que a aniversariante já estava devorando o seu último bocado?

E por assim dizer a festa estava terminada. Cordélia olhava ausente para todos, sorria.

— Já lhe disse: hoje não se fala em negócios! respondeu José radiante.

— Está certo, está certo! recolheu-se Manoel conciliador sem olhar a esposa que não o desfitava. Está certo, tentou Manoel sorrir e uma contração passou-lhe rápido pelos músculos da cara.

— Hoje é dia da mãe! disse José.

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração, Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão.

— Mamãe! gritou mortificada a dona da casa. Que é isso, mamãe! gritou ela passada de vergonha, e não queria sequer olhar os outros, sabia que os desgraçados se entreolhavam vitoriosos como se coubesse a ela dar educação à velha, e não faltaria muito para dizerem que ela já não dava mais banho na mãe, jamais compreenderiam o sacrifício que ela fazia. — Mamãe, que é isso! — disse baixo, angustiada. — A senhora nunca fez isso! — acrescentou alto para que todos ouvissem, queria se agregar ao espanto dos outros, quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe. Mas seu enorme vexame suavizou-se quando ela percebeu que eles abanavam a cabeça como se estivessem de acordo que a velha não passava agora de uma criança.

— Ultimamente ela deu pra cuspir, terminou então confessando contrita para todos.

Todos olharam a aniversariante, compungidos, respeitosos, em silêncio.

Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Os meninos, embora crescidos — provavelmente já além dos cinqüenta anos, que sei eu! — os meninos ainda conservavam os traços bonitinhos. Mas que mulheres haviam escolhido! E que mulheres os netos — ainda mais fracos e mais azedos — haviam escolhido. Todas vaidosas e de pernas finas, com aqueles colares falsificados de mulher que na hora não agüenta a mão, aquelas mulherezinhas que casavam mal os filhos, que não sabiam pôr uma criada em seu lugar, e todas elas com as orelhas cheias de brincos — nenhum, nenhum de ouro! A raiva a sufocava.

— Me dá um copo de vinho! disse.

O silêncio se fez de súbito, cada um com o copo imobilizado na mão.

— Vovozinha, não vai lhe fazer mal? insinuou cautelosa a neta roliça e baixinha.

— Que vovozinha que nada! explodiu amarga a aniversariante. — Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundas! me dá um copo de vinho, Dorothy! — ordenou.

Dorothy não sabia o que fazer, olhou para todos em pedido cômico de socorro. Mas, como máscaras isentas e inapeláveis, de súbito nenhum rosto se manifestava. A festa interrompida, os sanduíches mordidos na mão, algum pedaço que estava na boca a sobrar seco, inchando tão fora de hora a bochecha. Todos tinham ficado cegos, surdos e mudos, com croquetes na mão. E olhavam impassíveis.

Desamparada, divertida, Dorothy deu o vinho: astuciosamente apenas dois dedos no copo. Inexpressivos, preparados, todos esperaram pela tempestade.

Mas não só a aniversariante não explodiu com a miséria de vinho que Dorothy lhe dera como não mexeu no copo. Seu olhar estava fixo, silencioso. Como se nada tivesse acontecido.

Todos se entreolharam polidos, sorrindo cegamente, abstratos como se um cachorro tivesse feito pipi na sala. Com estoicismo, recomeçaram as vozes e risadas. A nora de Olaria, que tivera o seu primeiro momento uníssono com os outros quando a tragédia vitoriosamente parecia prestes a se desencadear, teve que retornar sozinha à sua severidade, sem ao menos o apoio dos três filhos que agora se misturavam traidoramente com os outros. De sua cadeira reclusa, ela analisava crítica aqueles vestidos sem nenhum modelo, sem um drapeado, a mania que tinham de usar vestido preto com colar de pérolas, o que não era moda coisa nenhuma, não passava era de economia. Examinando distante os sanduíches que quase não tinham levado manteiga. Ela não se servira de nada, de nada! Só comera uma coisa de cada, para experimentar.

E por assim dizer, de novo a festa estava terminada. As pessoas ficaram sentadas benevolentes. Algumas com a atenção voltada para dentro de si, à espera de alguma coisa a dizer. Outras vazias e expectantes, com um sorriso amável, o estômago cheio daquelas porcarias que não alimentavam mas tiravam a fome. As crianças, já incontroláveis, gritavam cheias de vigor. Umas já estavam de cara imunda; as outras, menores, já molhadas; a tarde cala rapidamente. E Cordélia, Cordélia olhava ausente, com um sorriso estonteado, suportando sozinha o seu segredo. Que é que ela tem? alguém perguntou com uma curiosidade negligente, indicando-a de longe com a cabeça, mas também não responderam. Acenderam o resto das luzes para precipitar a tranqüilidade da noite, as crianças começavam a brigar. Mas as luzes eram mais pálidas que a tensão pálida da tarde. E o crepúsculo de Copacabana, sem ceder, no entanto se alargava cada vez mais e penetrava pelas janelas como um peso.

— Tenho que ir, disse perturbada uma das noras levantando-se e sacudindo os farelos da saia. Vários se ergueram sorrindo.

A aniversariante recebeu um beijo cauteloso de cada um como se sua pele tão infamiliar fosse uma armadilha. E, impassível, piscando, recebeu aquelas palavras propositadamente atropeladas que lhe diziam tentando dar um final arranco de efusão ao que não era mais senão passado: a noite já viera quase totalmente. A luz da sala parecia então mais amarela e mais rica, as pessoas envelhecidas. As crianças já estavam histéricas.

— Será que ela pensa que o bolo substitui o jantar, indagava-se a velha nas suas profundezas.

Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava. E para aqueles que junto da porta ainda a olharam uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão fechada sobre a toalha como encerrando um cetro, e com aquela mudez que era a sua última palavra. Com um punho fechado sobre a mesa, nunca mais ela seria apenas o que ela pensasse. Sua aparência afinal a ultrapassara e, superando-a, se agigantava serena. Cordélia olhou-a espantada. O punho mudo e severo sobre a mesa dizia para a infeliz nora que sem remédio amava talvez pela última vez: É preciso que se saiba. É preciso que se saiba. Que a vida é curta. Que a vida é curta.

Porém nenhuma vez mais repetiu. Porque a verdade era um relance. Cordélia olhou-a estarrecida. E, para nunca mais, nenhuma vez repetiu — enquanto Rodrigo, o neto da aniversariante, puxava a mão daquela mãe culpada, perplexa e desesperada que mais uma vez olhou para trás implorando à velhice ainda um sinal de que uma mulher deve, num ímpeto dilacerante, enfim agarrar a sua derradeira chance e viver. Mais uma vez Cordélia quis olhar.

Mas a esse novo olhar — a aniversariante era uma velha à cabeceira da mesa.

Passara o relance. E arrastada pela mão paciente e insistente de Rodrigo a nora seguiu-o espantada.

— Nem todos têm o privilégio e o orgulho de se reunirem em torno da mãe, pigarreou José lembrando-se de que Jonga é quem fazia os discursos.

— Da mãe, vírgula! riu baixo a sobrinha, e a prima mais lenta riu sem achar graça.

— Nós temos, disse Manoel acabrunhado sem mais olhar para a esposa. Nós temos esse grande privilégio disse distraído enxugando a palma úmida das mãos.

Mas não era nada disso, apenas o mal-estar da despedida, nunca se sabendo ao certo o que dizer, José esperando de si mesmo com perseverança e confiança a próxima frase do discurso. Que não vinha. Que não vinha. Que não vinha. Os outros aguardavam. Como Jonga fazia falta nessas horas — José enxugou a testa com o, lenço — como Jonga fazia falta nessas horas! Também fora o único a quem a velha sempre aprovara e respeitara, e isso dera a Jonga tanta segurança. E quando ele morrera, a velha nunca mais falara nele, pondo um muro entre sua morte e os outros. Esquecera-o talvez. Mas não esquecera aquele mesmo olhar firme e direto com que desde sempre olhara os outros filhos, fazendo-os sempre desviar os olhos. Amor de mãe era duro de suportar: José enxugou a testa, heróico, risonho.

E de repente veio a frase:

— Até o ano que vem! disse José subitamente com malícia, encontrando, assim, sem mais nem menos, a frase certa: uma indireta feliz! Até o ano que vem, hein?, repetiu com receio de não ser compreendido.

Olhou-a, orgulhoso da artimanha da velha que espertamente sempre vivia mais um ano.

— No ano que vem nos veremos diante do bolo aceso! esclareceu melhor o filho Manoel, aperfeiçoando o espírito do sócio. Até o ano que vem, mamãe! e diante do bolo aceso! disse ele bem explicado, perto de seu ouvido, enquanto olhava obsequiador para José. E a velha de súbito cacarejou um riso frouxo, compreendendo a alusão.

Então ela abriu a boca e disse:

— Pois é.

Estimulado pela coisa ter dado tão inesperadamente certo, José gritou-lhe emocionado, grato, com os olhos úmidos:

— No ano que vem nos veremos, mamãe!

— Não sou surda! disse a aniversariante rude, acarinhada.

Os filhos se olharam rindo, vexados, felizes. A coisa tinha dado certo.

As crianças foram saindo alegres, com o apetite estragado. A nora de Olaria deu um cascudo de vingança no filho alegre demais e já sem gravata. As escadas eram difíceis, escuras, incrível insistir em morar num prediozinho que seria fatalmente demolido mais dia menos dia, e na ação de despejo Zilda ainda ia dar trabalho e querer empurrar a velha para as noras — pisado o último degrau, com alívio os convidados se encontraram na tranqüilidade fresca da rua. Era noite, sim. Com o seu primeiro arrepio.

Adeus, até outro dia, precisamos nos ver. Apareçam, disseram rapidamente. Alguns conseguiram olhar nos olhos dos outros com uma cordialidade sem receio. Alguns abotoavam os casacos das crianças, olhando o céu à procura de um sinal do tempo. Todos sentindo obscuramente que na despedida se poderia talvez, agora sem perigo de compromisso, ser bom e dizer aquela palavra a mais — que palavra? eles não sabiam propriamente, e olhavam-se sorrindo, mudos. Era um instante que pedia para ser vivo. Mas que era morto. Começaram a se separar, andando meio de costas, sem saber como se desligar dos parentes sem brusquidão.

— Até o ano que vem! repetiu José a indireta feliz, acenando a mão com vigor efusivo, os cabelos ralos e brancos esvoaçavam. Ele estava era gordo, pensaram, precisava tomar cuidado com o coração. Até o ano que vem! gritou José eloqüente e grande, e sua altura parecia desmoronável. Mas as pessoas já afastadas não sabiam se deviam rir alto para ele ouvir ou se bastaria sorrir mesmo no escuro. Além de alguns pensarem que felizmente havia mais do que uma brincadeira na indireta e que só no próximo ano seriam obrigados a se encontrar diante do bolo aceso; enquanto que outros, já mais no escuro da rua, pensavam se a velha resistiria mais um ano ao nervoso e à impaciência de Zilda, mas eles sinceramente nada podiam fazer a respeito: "Pelo menos noventa anos", pensou melancólica a nora de Ipanema. "Para completar uma data bonita", pensou sonhadora.

Enquanto isso, lá em cima, sobre escadas e contingências, estava a aniversariante sentada à cabeceira da mesa, erecta, definitiva, maior do que ela mesma. Será que hoje não vai ter jantar, meditava ela. A morte era o seu mistério.

Clarice Lispector

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Além Do Que Se Vê

(Los Hermanos)

Moça, olha só o que te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê

Sei que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mas do que somos todos nós
Você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
Passou também por nosso lar
E foi você quem desviou
Com golpes de pincel

Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
Que o bloco da família vai atrás

Põe mais um na mesa de jantar
Porque hoje eu vou pra aí te ver
E tira o som dessa TV
Pra gente conversar
Diz pro Bamba usar o violão
Pede pro Bruno me esperar
E avisa que eu só vou chegar
No último vagão

É bom te ver sorrir
Deixa eu ver a moça
Que eu também vou atrás
E a turma diz: assim é que se faz!

Sei que tua solidão me dói...
Sei aquela mesa de jantar...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Último Romance

(Los Hermanos)

Eu encontrei quando não quis

Mais procurar o meu amor
E o quanto levou, foi pra eu merecer
Antes um mês e eu já não sei...

E até quem me vê lendo jornal
Na fila do pão sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais,
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe pequena...

Lá vai!
Me diz o que é o sufoco
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei, e quis duvidar,
Tanto clichê deve não ser.
Você me falou pra eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar a minha TV
Num jeito de te levar a qualquer lugar
Que você queira e ir onde o vento for,
Que para nós dois sair de casa já é se aventurar

Lá vai!
Me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona
Pra te acompanhar.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Presságio

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Reticências

...e é difícil mesmo os pontos finais, consigo as pausas, outros sinais. E nem sei por que isso, se nunca realmente me apropriei; talvez seja o motivo, a indefinição. E planejo rituais como marcos de mudança, de rompimento. Tem um poema de Fernando Pessoa recortado do jornal de terça que fala do que poderia ter sido, desse quase tão bonito, esse pensamento passageiro e risonho. E tem também uma música, um canto de despedida sem mágoas, como um hino à liberdade, mas eu não consegui ainda realizá-los, compartilhá-los, justamente porque não tenho certeza se a hora é essa, se é fim, se acabou, mesmo com todas as provas à vista, todas as provas à mão. E não gosto de voltar atrás. Eu nunca acreditei que fosse possível não reconhecer e aceitar verdades tão cruas. Deve ser porque também é meio dolorido, e isto sempre nos foi mostrado como algo a ser evitado. É mesmo só contradição. Mas como ainda sou eu quem escrevo essa história, qualquer hora dessas eu termino tudo e ponto

Ana Aitak

domingo, 5 de abril de 2009

Eis o Tempo de Conversão

Domingo de manhã...

Dificilmente eu previa acordar cedo. O sábado foi, digamos, muito "leviano". Mesmo sem querer. As apostas...

A partir de hoje não faço mais apostas. Não essas sem nenhum sentido.

Acordei cedo para ir a igreja, uma coisa que estou voltando a fazer (ir a igreja, não acordar cedo). Foi necessário. Redescobri uma das coisas que sempre me motivaram na infância e eu acabei perdendo. Uma boa missa. Para ser sincero, inesperada...

Parecia que eu estava tendo uma conversa particular com o padre. Na hora relembrei dos meus valores de infância e da importancia deles.

"Eis o tempo de conversão". Parece pouco, mas essa frase está completa. Agora é a minha hora!!! O momento certo, na hora certa.

A grande ironia? Isso tudo aconteceu enquanto eu estava de ressaca. Mas essa foi a minha última. Agora tenho outros objetivos, que me foram mostrados hoje, em minha "conversa particular".

Peço desculpas a todos por ontem. Não acontecerá novamente.

Agora preciso dormir, na certeza dos meus novos objetivos. Ainda mudarei um pouco, tenho certeza, mas estou chegando próximo do que espero.

EIS O TEMPO DE CONVERSÃO...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Se Eu Fosse um Padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no pecado
- muito menos no
Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Mário Quintana

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Longe do Meu Lado

(Renato Russo)

Se a paixão fosse realmente um bálsamo
O mundo não pareceria tão equivocado
Te dou carinho, respeito e um afago
Mas entenda, eu não estou apaixonado

A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
E agora carrego em mim
Uma dor triste, um coração cicatrizado

E olha que tentei o meu caminho
Mas tudo agora é coisa do passado
Quero respeito e sempre ter alguém
Que me entenda e sempre fique ao meu lado
Mas não, não quero estar apaixonado.

A paixão quer sangue e corações arruinados
E saudade é só mágoa por ter sido
Feito tanto estrago
E essa escravidão e essa dor
Não quero mais

Quando acreditei que tudo era um fato consumado
Veio a foice e jogou-te longe
Longe do meu lado

Não estou mais pronto para lágrimas
Podemos ficar juntos
E vivermos o futuro, não o passado
Veja o nosso mundo

Eu também sei que dizem
Que não existe amor errado
Mas entenda, não quero estar apaixonado.

Mentira

A mentira é o fruto do medo.
Do medo que temos,
Acima de tudo o resto,
De Nós próprios.
De nos confrontarmos com a Verdade,
Com a transparência,
Com o rigor e a atitude, no Ser e no Estar.
A mentira é oportuna e dá jeito.
É oportuna porque salvaguarda-nos em qualquer situação
(mesmo as mais mirabolantes).
Dá jeito porque aligeira soluções e resolve de imediato
incertezas, dúvidas e até crises existenciais.
Há mentiras piedosas.
São inócuas.
Não prejudicam, nem lesam.
Mantém o "verde" no Jardim.
Outras mentiras são atrozes e cruéis.
Pior:
Há vidas de mentira permanente,
Vestidas de um faz-de-conta dos Contos de Fadas, onde
o Jardim se reveste de mil cores e mil flores.
Todas de plástico.

Autor Desconhecido

O Fim de uma Velha História

Disse que seria eterno esse amor
E obstáculos enfrentaríamos
Disse que irias onde eu for
Que juntos, pela vida, lutaríamos

Por que mentiu?
Se não era isso que queria
Pra quê me iludiu?
Se mais tarde acabaria
Por que me enganou?
Só para ver que podia
Pra quê fingiu que amou?
Eu acreditei que seria

Fui cego, tão tolo
Pra cair de novo no teu jogo
Acreditar no brilho do teu olhar
Brilho no olhar da cobra antes de picar

Ao menos em parte foi bom
Aprendi mais uma lição que a vida me deu
De não chorar porque um dia acabou
Mas sorrir porque um dia aconteceu

Lorenzo