segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Inspiração

Amanheceu agitado. Abriu os olhos, encarou o teto branco e tentou descobrir o por quê da agitação. Percebeu que sonhara com um tema para um conto. Volta e meia acontecia algo assim. Às vezes era uma frase solta. Outras vezes pedaços de um poema, fragmentos que depois ele tentava costurar. Nem sempre conseguia. Eram presentes que a noite lhe dava. Esboços. Desta vez era uma idéia, um mote, ponto de partida para um conto. Podia aproveitar e inscrever esse conto no concurso literário sobre o qual lera na véspera. Era preciso primeiro desenvolver o tema. Parir o conto. Foi até o escritório, ligou o computador e começou a escrever.


Autor Desconhecido

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Quatro Homens

Existe uma história sobre quatro homens chamados: Todos, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia uma tarefa importante a ser realizada e foi pedido a Todos que a fizesse. Todos estava certo que Alguém a faria. Qualquer um poderia ter feito, mas Ninguém fez. Alguém ficou zangado por isto, porque era o trabalho de Qualquer um. Todos pensou que Qualquer Um poderia ter feito e Ninguém compreendeu que Todos não a faria. Terminou que Todos culpou Alguém quando realmente Ninguém fez o que Qualquer um poderia ter feito.


Autor Desconhecido

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Revolução

Durante nossa vida aprendemos a valorizar coisas que não são fundamentais.

Materialismo, modismo, poder, status e coisas desse tipo são o que importam nessa sociedade.

Por isso queremos convocá-lo para uma revolução.

Vamos renovar a espécie humana.

Vamos investir na alma.

Resgatar não só a natureza, mas o natural.

Vamos vender mais "o faz".

Não filtrar as emoções. Perder a inveja. Contabilizar as boas relações.

Reciclar as relações ruins. Reatar as velhas amizades.

Equipe o prazer. Trabalhe a perseverança. Vença o cansaço.

Faça a diferença sem precisar de propaganda.

Resolva tudo sem alarde.

Use o marketing da sinceridade.

Cobre o profissionalismo de todos, inclusive daqueles que você elegeu.

Vamos maximizar a energia.

Preservar os recursos. Tratar a água, pois ela é nossa fonte de vida.

E como o ar também é meio de vida: Vamos ser transparentes.

Renove o estoque de sorrisos. Canalize os bons pensamentos.

Use o marketing do amor.

Abrace mais. Beije seus amores. Relembre o quanto os ama.

E com a mesma força.

Diga não ao racismo, a intolerância e a discriminação.

Seja saudável, inclusive nas atitudes.

Dê bons exemplos. Diga a verdade, principalmente as crianças para que elas cresçam sabendo acreditar.

Crie seus filhos como cidadãos do mundo.

Cultive Deus.

E viva na razão da emoção; lutando pela felicidade plena e pelo futuro melhor.

E agradeça sempre por estar nesse mundo.


Propaganda da Metal Singer

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Nem sempre PC é diversão

É vírus
É o fim do programa
É um erro fatal
O começo do drama
É o turbo Pascal
Diz que falta um login
Não me mostra onde é
E já trava no fim.

É dois, é três, é um 486
É comando ilegal
Essa merda bloqueia
É um erro e trava
É um disco mordido
HD estragado
Ai meu Deus tô fudido.

São as barras de espaço
Exibindo um borrão
É a promessa de vídeo
Escondendo um trojan
É o computador
Me fazendo de otário
Não compila o programa
Salva só o comentário.

É ping, é pong
O meu micro me chuta
O scan não retira
O vírus filho da puta
Windows não entra
E nem volta pro DOS
Não funciona o reset
Me detona a voz.

É abort, é retray
Disco mal formatado
PCTools não resolve
Norton trava o teclado
É impressora sem tinta
Engolindo o papel
Meu trabalho de dias
Foi cuspido pro céu.
Autor Desconhecido

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Amor

Ela: Você me ama mais do que tudo?
Ele:
Amo.
Ela:
Paixão, paixão?
Ele:
Paixão, paixão mesmo.
Ela:
Mais do que tudo no mundo todo?
Ele:
No mundo todo e fora dele.
Ela:
Não acredito.
Ele:
Faz um teste.
Ela:
Eu ou fios de ovos.
Ele:
Você, fácil.
Ela:
Daqueles com calda grossa, que a gente chupa o fio e a calda escorre pelo queixo.
Ele:
Prefiro você.
Ela:
Futebol.
Ele:
Não tem comparação.
Ela:
Você esta caminhando, vem uma bola quicando, a garotada grita "Devolve tio!" e você domina, faz dezessete embaixadas e chuta com perfeição.
Ele:
Prefiro você.
Ela:
Internacional e Milan em Tóquio pelo campeonato do mundo, passagem
e entrada de graça.
Ele:
Você vai junto?
Ela:
Não.
Ele:
Pela televisão se vê melhor.
Ela:
Faz muito calor. Aí chove, aí abre o sol, aí vem uma brisa fresca com aquele cheiro de terra molhada, aí toca uma musica no rádio e é uma nova do Paulinho. É Sexta-feira e a televisão anunciou um Hitchcock sem dublagem para aquela noite... e o Itamar está dando certo.
Ele:
Você.
Ela: Voltar a infância só pra poder pisar na lama com o pé descalço e sentir a lama fazer squish entre os dedos.
Ele:
Você, longe.
Ela:
A Sharon Stone telefona e diz que é ela ou eu.
Ele:
Que dúvida. Você.
Ela:
Cheiro de livro novo. Solo de sax alto. Criança distraída. Canetinha japonesa. Bateria de escola de samba. Lençol recém-lavado. Hora no dentista cancelada. Filme com escadaria curva. Letra do Aldir Blanc. Pastel de rodoviária.
Ele:
Você, você, você, você, você, você, você, você, você e
você, respectivamente.
Ela:
A Sharon Stone telefona novamente e diz que se você se livrar de mim ela já vem sem calcinha.
Ele:
Desligo o telefone.
Ela:
Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com exclusividade. A vida eterna e um cartão de credito que nunca expira.
Ele:
Prefiro você.
Ela:
Uma cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo, fica com um quarto de espuma firme. O resto é ela, só ela, dizendo "Vem".
Ele:
Hummm...
Ela:
Como, hummm? Ela ou eu?

.... Silêncio de 5 segundos ...

Ele: Qual é a marca?
Ela: Seu cretino!


Luis Fernando Veríssimo

Ressaca

Hoje, existem pílulas milagrosas, mas eu ainda sou do tempo das grandes ressacas. As bebedeiras de antigamente eram mais dignas, porque você as tomava sabendo que no dia seguinte estaria no inferno. Além de saúde era preciso coragem. As novas gerações não conhecem ressaca, o que talvez explique a falência dos velhos valores. A ressaca era a prova de que a retribuição divina existe e que nenhum prazer ficará sem castigo.

Cada porre era um desafio ao céu e às suas feras. E elas vinham: Náusea, Azia, Dor de Cabeça, Dúvidas Existenciais - golfadas. Hoje, as bebedeiras não têm a mesma grandeza. São inconseqüentes, literalmente. Não é que eu fosse um bêbado, mas me lembro de todos os sábados de minha adolescência como uma luta desigual entre a cuba-libre e o meu instinto de autopreservação. A cuba-libre ganhava sempre. Já dos domingos me lembro de muito pouco, salvo a tontura e o desejo de morte.

Jurava que nunca mais ia beber, mas, antes dos trinta, "nunca mais" dura pouco. Ou então o próximo sábado custava tanto a chegar que parecia mesmo uma eternidade. Não sei o que a cuba-libre fez com meu organismo, mas até hoje quando vejo uma garrafa de rum os dedos do meu pé encolhem.

Tentava-se de tudo para evitar a ressaca. Eu preferia um Alka-Seltzer e duas aspirinas antes de dormir. Mas no estado em que chegava nem sempre conseguia completar a operação. Às vezes dissolvia as aspirinas num copo de água, engolia o Alka-Seltzer e ia borbulhando para a cama, quando encontrava a cama. Mas os métodos variavam.

Por exemplo:

Um cálice de azeite antes de começar a beber -- O estômago se revoltava, você ficava doente e desistia de beber.

Tomar um copo de água entre cada copo de bebida -- O difícil era manter a regularidade. A certa altura, você começava a misturar a água com a bebida, e em proporções cada vez menores. Depois, passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida.

Suco de tomate, limão, molho inglês, sal e pimenta -- Para ser tomado no dia seguinte, de jejum. Adicionando vodca ficava um bloody-mary, mas isto era para mais tarde um pouco.

Sumo de uma batata, sementes de girassol e folhas de gelatina verde dissolvidas em querosene -- Misturava-se tudo num prato pirex forrado com velhos cartões do sabonete Eucalol. Embebia-se um algodão na testa e deitava-se com os pés da ilha de Páscoa. Ficava-se imóvel durante três dias, no fim dos quais o tempo já teria curado a ressaca de qualquer maneira.

Uma cerveja bem gelada na hora de acordar -- Por alguma razão o método mais popular.

Canja -- Acreditava-se que uma boa canja de galinha de madrugada resolveria qualquer problema. Era preciso especificar que a canja era para tomar, no entanto. Muitos mergulhavam o rosto no prato e tinham de ser socorridos às pressas antes do afogamento.

Minha experiência maior era com a cuba-libre, mas conheço outros tipos de ressaca, pelo menos de ouvir falar. Você sabia que o uísque escocês que tomara na noite anterior era paraguaio quando acordava se sentindo como uma harpa guarani. Quando a bebedeira com uísque falsificado era muito grande, você acordava se sentindo como uma harpa guarani e no deposito de instrumentos da boate Catito's em Assunção.

A pior ressaca era de gim.

Na manhã seguinte, você não conseguia abrir os dois olhos ao mesmo tempo. Abria um e quando abria o outro, o primeiro se fechava. Ficava com o ouvido tão aguçado que ouvia até os sinos da catedral de São Pedro, em Roma.

Ressaca de martini doce: você ia se levantar da cama e escorria para o chão como óleo. Pior é que você chamava a sua mãe, ela entrava correndo no quarto, escorregava em você e deslocava a bacia.

Ressaca de vinho. Pior era a sede. Você se arrastava até a cozinha, tentava alcançar a garrafa de água e puxava todo o conteúdo da geladeira em cima de você. Era descoberto na manhã seguinte imobilizado por hortigranjeiros e laticínios e mastigando um chuchu para alcançar a umidade. Era deserdado na hora.

Ressaca de cachaça. Você acordava sem saber como, de pé num canto do quarto. Levava meia hora para chegar até a cama porque se esquecera como se caminhava: era pé ante pé ou mão ante mão? Quando conseguia se deitar, tinha a sensação que deixara as duas orelhas e uma clavícula no canto.

Olhava para cima e via que aquela mancha com uma forma vagamente humana no teto finalmente se definira. Era o Peter Pan e estava piscando para você.

Ressaca de licor de ovos. Um dos poucos casos em que a lei brasileira permite a eutanásia.

Ressaca de conhaque. Você acordava lúcido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do universo. A chave de tudo estava no seu cérebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos estavam tentando arrombar a sua caixa craniana. Você sabia que era alucinação, mas por via das dúvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro.

Hoje não existe mais isto. As pessoas bebem, bebem e não acontece nada. No dia seguinte estão saudáveis, bem-dispostas e fazem até piadas a respeito.

De vez em quando alguns dos nossos se encontram e se saúdam em silêncio. Somos como veteranos de velhas guerras lembrando os companheiros caídos e o nosso heroísmo anônimo.

Estivemos no inferno e voltamos, inteiros.

Um brinde.

E um Engov.


Luis Fernando Veríssimo

Como vejo a vida...

Vejo a vida como uma grande represa...

Há vários pequenos rios que desaguam nesta represa
e esta represa solta água aos poucos e num ritmo constante e controlado.

Se um dos rios se descontrola, afeta a margem da represa que o recebe,
agitando a represa e mudando o fluxo de água que esta solta.

Se mais rios se descontrolam, a represa enche demais e fica agitada
correndo o risco de romper...

O desafio está em controlar cada pequeno rio que deságua na represa...


Márcio - Marushio

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Grande Geraldo

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pelos campos a fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
ainda fazem da flor seu mais forte refrão
e acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam a antiga lição
de morrer pela pátria e viver sem razões

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos construções
Somos todos soldados armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição