domingo, 23 de setembro de 2007

Bons Tempos

Ela sempre esteve ao seu lado e ele sempre fora grato por isso. Ele sorri, e segura firmemente a sua mão.

- É querida, passamos bons momentos juntos...

Um beijo na testa da amada. Ele acaricia os cabelos agora grisalhos, e ao fitá-los, recorda-se dos dias em que eles eram negros como o carvão.

Ela olha para ele. Uma lágrima escorre por sua face, e a água escorrendo lhe remete à outras lembranças...

Ele lavando seu recém adquirido carro, no auge de seus trinta anos. Ela aparece, bela tal qual uma ninfa. Seus vinte e poucos anos lhe eram agradáveis, e certamente ela lhe daria belos filhos, seu maior sonho.

O dia parecia propício para isso, e ela transparecia fertilidade. Ele a via nua, sob aquele vestidinho florido que insistia em lhe marcar todas as curvas.

Ela se aproxima calmamente e lhe beija a boca. Parecia que vinha para lhe ajudar, já que pega a bucha, totalmente embebida de sabão, e se dirige ao carro.

Ledo engano. A pequena entorna todo o balde cheio de espuma em sua cabeça. Ela era uma moleca, e era isso o que mais ele amava nela. Ela lhe fazia sentir-se jovem.

Num impulso, ele aponta o esguicho d’água que segurava em direção à mulher. A água fria escorre por seu corpo e ela corre para se proteger.

Um grito, um caminhão, uma buzina...

Piiiiiiii!!!!!!!

- ENFERMEIRA!

Ele está de volta, de frente ao leito de sua mulher. Os aparelhos buzinam. Ele delicadamente fecha os olhos da doce amada. Sabe que ali morre uma grande parte dele. A mais bela de todas...

Colaba

Nenhum comentário: