quarta-feira, 20 de maio de 2009

Meu erro foi ter nascido!

"Essa casa não é minha e nem é meu este lugar... Estou só... E não resisto..."

O ser humano sabe ser cruel como ninguém. Ele sabe como puxar o tapete de nossos pés com a mesma facilidade com que nos colocou numa redoma de vidro feita para objetos de rara beleza e de valor incalculável. Ele nos reduz a pó depois de nos erguer nas alturas. Ele nos transforma em resto, do tipo que o gato enterra, mesmo tendo nos tratado, um dia, como o prato principal, o manjar dos deuses!

E como ser humano que sou nas mãos desses, também, classificados como seres humanos, não sei se me sinto pasma ou envergonhada de ser quem sou. De acreditar nos seres que agem como eu, que se envolvem como eu, que acreditam como eu, mas que não possuem sentimentos como eu, que não saem da mesma forma com que entram, pela porta da frente, como eu.

Aí, me pergunto: Por que ando na contra-mão da vida, meu Deus? Pra tomar porrada a cada esquina e sair machucada? E a resposta se apresenta de forma simples: Porque a vida já está no seu curso, já nos apegamos a ela como ela é, com nossos traumas que já sabíamos que teríamos, nossos medos, nossas fantasias que nunca deixamos de sonhar. Estamos, querendo ou não, condenados a ser quem somos, porque, infelizmente é tarde demais, já nascemos!

Podemos, claro, ficar mais leves e aprender a conviver com nossas fraquezas, mas isso é coisa para os mais sábios, não para mim que insisto em ser humana em meus sentimentos mais primários. No máximo, para ocultar minha grande falha, troco os meus problemas pelos problemas dos outros e finjo que tudo está bem. Mas eu sei que não está e isso não resolve meu problema, ao contrário, só piora.

Quando a questão é sexo, o que pode nos salvar do ser humano nem tão humano assim? Só mesmo não nascer nos privará do sofrimento. Uma vez nascidos, tarde demais! Perdemos nossos cinco sentidos, não evitamos que nossos olhos vejam outros olhos, que nossos narizes sintam outros cheiros, nossas mãos toquem outras pessoas, que sintamos o gosto delas e ouçamos o que elas têm a nos dizer. Vivemos um curto-circuito de sentimentos que ora nos impele pra frente, ora nos derrota e nos empurra para baixo.

O problema é que nos transformamos em mais que seres humanos e nem tão humanos, mas em homens e mulheres que insistem em extrair alegria de onde nunca existiu sensação ou querência para tal. Que teima em sentir carinho onde, sequer, existiu tesão. Que vê alegria onde só brotam dificuldades, onde neste carnaval de sentimentos que se oferece, paixões e melancolias são colocadas à nossa frente, ao nosso dispor, para optarmos entre incorrer nos mesmos erros ou acertar uma única vez.

Todos, inclusive eu, esquecemos que somos seres normais e estamos tentando nos manter de tal forma na essência. Com braços, pernas, alma, principalmente a alma! E por mais que tentem, por mais que seja tarde já que nascemos e disso, não temos como escapar, não conseguem nos transformar em pedras, parede ou concreto frio. Podem tentar mudar nossas cabeças, nos arregimentar, nos influenciar, nos detonar como pessoas por acharem que somos maleáveis. Mas, tirar de nós a humanidade, proibir que nos entreguemos ao amor, à tentativa de continuar a sonhar, a de continuar a acreditar que existam seres humanos de verdade, que nos permitam sonhar, cultivar o nosso lado mais puro e selvagem é o mesmo que impossível. Só se não existíssemos... Tarde demais, infelizmente, já nascemos!

Por isso, "Vou seguindo pela vida, esquecendo de você... Tenho muito que viver... Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer... Já não sonho..." Mas um dia, volto a sonhar, porque, já nasci... Tarde demais para evitar-me!


Trechos da música Travessia e do texto de Martha Medeiros de um Domingo qualquer. Mas a alma e o sentimento, esses são meus...
Andréa Feder

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