terça-feira, 31 de março de 2009

Signo de Gêmeos

De manhã, você pegou uma conversa entre seu sócio e um camarada muito empertigado, que expunha com ares de sabichão as inúmeras vantagens da instalação de um novo equipamento a laser na empresa. Acidentalmente, este mesmo camarada estava sentado na mesa ao lado, quando você foi tomar seu chope de fim de tarde - só que parecia ser outra pessoa, pois atacava piadas de papagaio com a ginga de um malandro carioca. E não é que na manhã seguinte, por acaso, você cruza com este mesmo indivíduo na porta da escola das crianças, e ele está pacientemente arrumando a mochila do filho e fazendo uma preleção sobre a falta de educação que é ficar contando piadas de português para a professora. Você vai pensar que está tendo miranges, ou que o tal camarada tem vários clones espalhados pela cidade. Bobagem. O doutor esnobe, o piadista escrachado e o pai cheio de dedos são uma única e mesma pessoa: um camaleão geminiano.

O velho adágio "la donna è mobile" pode ser aplicado à perfeição aos homens, mulheres e crianças de gêmeos: eles são seres voláteis por natureza, que mudam de postura e opinião com a mesma sem-cerimônia com que mudam de roupas, hobbies, simpatias e antipatias. E não é porque eles não saibam o que querem - é que não conseguem se decidir entre tanta coisa que o mundo oferece e, na dúvida, decidem-se por tudo. O próprio mito relativo ao signo, dos irmãos Castor e Pollux, filhos de Zeus (disfarçado de cisne) e da mortal Leda, explica tudo: o geminiano é um caso de dupla personalidade crônica, ou, na mais emocionante das hipóteses, de múltipla personalidade, mesmo.

O geminiano é regido pelo planeta Mercúrio, o mais esperto e inquieto dos corpos celestes. Isso lhe dá, além da personalidade camaleônica, a capacidade de fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo, com um pé nas costas. Aquele senhor mencionado acima, por exemplo, é capaz de ler jornal, atender nove telefonemas, ditar uma carta comercial e revisar os originais de seu livro de memórias simultaneamente, e isso no espaço de quarenta minutos. E de falar com desenvoltura sobre qualquer assunto, das últimas do Dalai Lama às últimas cotações da Bolsa de Tóquio. Pode ser que diga uma ou outra mentirinha sobre a fuga do Dalai do Tibet, ou certa invencionices sobre a flutuação das ações. Não tem importância - o geminiano não mente de propósito, apenas sofre de excesso de imaginação. Ele será sempre mais caleidoscópico do que a monótona realidade.

Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen

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