...Quem me dá, quem me dá esse destino de apólogo da miséria urbana, antropólogo do cimento, esteta da palavra moderna que brota do arrependimento; da culpa caudalosa e ancestral que vem dos holandeses tão lindos que comeram as pernambucanas nas praias do Recife quando os tubarões não chegavam e os portos não avançavam por mangues cheios de comidas... quero ser o perfeito defensor dessas causas perdidas, curar as dores das barrigas que não degustam os manjares possíveis somente aos nobres paladares dos sociólogos da corte que cortam o raciocínio em começo, os meios e os fins; tudo tem finalidade, essa a grande verdade e eu não venho aqui para defender nem para explicar, confundir é o meu lugar, lugar de 500 anos de solidão que não explicam a contradição entre o país real e o imaginário, o país original e o falsário, o país do que acontece do que podia ter acontecido se o índio não tivesse comido a banha do bispo Sardinha morto no açougue das almas, morto no azougue com palmas no auditório quase vazio de nossa história, uma história que não é contada no cinema , esse nosso dilema...
[Ricardo Soares: excerto da Cinevertigem]
Um comentário:
fico feliz por tocar vc de alguma forma, através de minhas palavras...
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