Não é quando o dia amanhece em nova aurora, a vida recomeça quando o sol cede seu lugar. Esse é o sinal para mim, porque sou canhoto e não destro, porque sou verso e não prosa, canção e não matemática. Sou guitarras e não armas, porque sou emoção e não lógica, porque ando pelo lado mais vazio da calçada, porque dirijo de faróis apagados na contramão. Simplesmente porque sou o final de semana e não os dias úteis, simplesmente porque sou lua e poderia ser só sua, mas você não entende...
Com um galho de bambu verde e dois ramos de palmeira eu hei de fazer um dia o meu cavalo - com asas! Subirei nele, com vento, lá bem alto de carreira, Voarei, roçando o mato, as copas em flor das árvores, como se cruzasse o mar... e até sobre o mar de fato passarei nas nuvens pálidas muito acima das montanhas, das cidades, das cachoeiras,
mais alto que a chuva, no ar! E irei às estrelas, ilhas dos rios de além, ilhas de pedras divinas, de ribeiras diamantinas com palmas, conchas, coquinhos nas suas praias também... praias de pérola e de ouro onde nunca foi ninguém...
Por que razão haveria de abrir os olhos, se o que me rodeia já está dentro de mim. Em vão perco o que em vão procuro. Olhando sem olhar, tocando sem tocar, ouvindo se que até mim chegue já som algum, imóvel, igual a uma pedra. Pouco a pouco, o oculto e o visível transformam-se num só como o rio e a sua sombra. (E o silêncio é escutar o coração de um anjo.) Ponho à prova o presente: o seu ponto de chegada sem chegada. Pergunto-me quem sou, quem és, quem somos. De pé, em frente ao abismo do silêncio, começa outra noite.
A coragem está em assumir uma base de valores sabendo que ela é potencialmente falível e que, ainda durante a vida, podemos vê-la cair por terra, como um baralho de cartas ou um tigre de papel. Não se trata de fé, mas de profissão de fé, de confiança. Pedem-nos sempre, ou és positivo, ou negativo, ou tens ou não tens valores. A vida não é assim. E a sociedade humana falha, muitas vezes, porque não percebe que a vida não é assim.
Quando a gente acha que conseguiu domar a vida, convencidos de que é só isso mesmo, achando que já descobriu tudo e que o jeito é ir levando, ela dá um olé, dribla três corações partidos, faz tabela com os sentimentos e surge com um novo amor, marcando gol de placa.
Você, ainda sem saber se é do time que está ganhando, ou se é do time adversário, fica ali parado, olhando a bola entrar no gol, a rede balançar e sentindo o coração bater muito mais forte. De repente, num impulso, corre pro abraço e comemora. Sim, você está se apaixonando.
Tomado por uma felicidade sem explicação, você corre pelo campo, arranca a camisa, mexe com a torcida e grita: "sim, marquei esse gol! Acertei o coração de alguém!". E a galera comemora com você. No time dos apaixonados, ninguém é perdedor. Todo mundo ganha medalha, troféu, abraços, beijos. O coração, juiz dessa partida que não tem hora pra acabar (pra quem tem muita sorte mesmo, não acaba nunca), corre de um lado para o outro, certificando-se de que ninguém cometerá uma falta grave. Um cartão amarelo uma vez ou outra acontece, mas faz parte do jogo.
A verdade é que quando a gente está gostando de alguém, a gente só quer falar disso. Qualquer metáfora fica fácil. Dá até pra uma mulherzinha como eu falar de futebol. Difícil mesmo é ficar longe.
Pensar que a felicidade está onde não estamos é dar asas ao inatingível; se há momentos em que rimos e nos sentimos plenos, por que não admitir que a felicidade é possível? Por que essa busca incessante do ad aeternum, se este tempo não foi feito para nós, humanos, e sim para os deuses? Se é tão bom sê-lo, por que não fingir pelo menos um sorriso. Fingir? Fingir seria certamente uma máscara e esta não condiz com a vivência plena que precisamos ter das coisas.
Ser feliz deve ser um peito aberto, desarmado ante o medo da incongruência ou do inesperado, colocar-se frente à vida sem temer que um soco por trás pegue-nos as costas. Deve-se confiar e rir, achando que o momento seguinte será melhor ainda.
Utopia? Que importam denominações, suposições, possibilidades... Ser feliz deve ser tão bom quanto caminhar na chuva e não se molhar, deve ser tão bom quanto abraçar um amigo, sentindo-o apenas como tal e, às vezes, sentindo no entrelaçar de braços que não se está sozinho, que o pior já passou e, doravante, tudo será carinho.
Ser feliz é não estar cansado, não pensar em se compensar do que quer que seja, porque não há por que ou do que se compensar. A chuva se chega fria demais, é gostoso, o dia está abrasante; se a comida não é a preferida, tanto melhor, está-se satisfeito ou se quer emagrecer alguns quilos e quanto menos comida, melhor. Se a gente está feliz é porque está e ponto final. Felicidade é algo tão bom, tão bom que significa tanto, que esse tanto significa tudo. Não se é feliz vinte e quatro horas por dia, mas um instante que seja é o bastante.
Pergunte-se, pois, o que é ou onde está a felicidade e se alguém disser: - Comigo! ou Aqui!, este álguem terá chegado ao seu momento epifânico e ainda que, nesse momento cesse o seu respirar, diga-se deste alguém: - Valeu à pena viver!
Acordei pensando em você. Pensamento fixo mesmo, daqueles que a gente não consegue desviar. Saí da cama morrendo de vontade de te ver. Seria ótimo poder dar um beijo de bom dia. Acho que sonhei com o seu abraço, sua voz falando coisas suaves. Não lembro bem... Ando pela rua, indo para o trabalho e imagino o que você deve estar fazendo. Que roupa pode estar usando. Hoje está fazendo sol. A luz clara acerta meus óculos escuros e esquenta meu rosto e eu desejo que você esteja tão feliz quanto estou, pensando em mim, desejando que nossos caminhos se cruzem logo. Ajeito meu cabelo, verifico se minha roupa não está torta. Você pode estar ao meu lado, como eu vou saber? Abro um livro e lá vem você novamente na minha cabeça. É aqui que você mora por enquanto. Fico com vontade de marcar um trecho do livro para ler pra você. Por que eu sei que você vai gostar desse livro. Assim como deve gostar de sorvete, de chocolate e de música. A gente ainda não se conhece. Não sei qual sua cor preferida, nem como você gosta de tomar seu café, ou a cor dos seus olhos. Você ainda não sabe que eu acordo de bom humor todos os dias, que choro com coisas idiotas na TV, que sou míope e vivo sem óculos. Mas não importa. Você está por aí, construindo sua história, enquanto eu faço o mesmo do lado de cá. E uma hora qualquer, em um dia totalmente pacato, iremos cruzar nossos olhares numa daquelas cenas dignas de filme. Por que se é pra sonhar com o homem que realmente me fará feliz, é assim que tem que ser.
Nada é original. Apropria-te de tudo o que te enche de inspiração ou estimula a tua imaginação. Devora sem distinção filmes velhos e filmes novos, músicas, livros, quadros, fotografias, poemas, sonhos, conversas ouvidas por acaso, arquitetura, sinaléctica urbana, árvores, nuvens, movimentos de água, sombras e luz. Rouba apenas as coisas que falem diretamente ao teu coração. Se agires assim, a tua criação (tal como o teu fruto) será autêntica. A autenticidade é inestimável; a originalidade uma quimera. E não tentes dissimular o que pediste emprestado - reinvidica-o se for teu desejo. Dê por onde der, lembra-te sempre do que disse Jean-Luc Godard: "O importante não é onde se apanha as coisas - é até onde se as leva".
Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos Quero ver brotar o perdão onde a gente plantou juntos outra vez Já sonhamos juntos semeando as canções no vento Quero ver crescer nossa voz no que falta sonhar Já choramos muito, muitos se perderam no caminho Mesmo assim não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer Sol de Primavera abre as janelas do meu peito A lição sabemos de cor Só nos resta aprender...
É preciso estar embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia e virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o passáro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
O tempo não foi nosso melhor amigo. Ele adiantou as coisas. Ele me fez chegar tarde demais na sua vida. Ele fez com que você fosse rápido demais em viver a sua. Será que nossa história vai ser desenhada assim, pra sempre? A gente, separados-juntos, reclamando por não ter tido tempo? Por não poder viver o que gostaríamos, porque se o fizéssemos magoaríamos muita gente? Porque o tempo fez assim? Porque correu demais pra você? Porque demorou tanto pra mim? Será que esse monte de interrogação merece ponto final? Acho que não. Respostas seriam em vão. Desnecessárias, completamente. A gente se completa. E isso eu não entendo. Nem quero mais tentar. Tô aprendendo.
Hoje ouvi uma pergunta que me incomodou: - Qual a receita para ser feliz?
Cáspita! Raios Múltiplos! E pra responder uma questão dessas?
Será que temos que deixar de nos preocupar com os problemas? Ou nos esforçarmos mais para resolvê-los?
Temos que tentar gostar de quem nos ama, mas que não correspondemos? Ou tentar conquistar quem amamos e não nos corresponde? Quem sabe então, aguardar pacientemente até aparecer a tal da "alma gêmea"?
Temos que parar de imaginar visualmente os belos textos dos melhores livros, para não sofrer de ansiedade por não conseguir viver daquele jeito... Ou talvez entrar mais e mais no mundo dos melhores livros, fugindo da realidade e, quem sabe, acabando por construir oportunidades de viver tudo isso...
Temos que seguir todas as regras para não existir punição, Ou quebrar todas as regras para não ficar sob pressão?
Não tem receita. Não achei resposta.
Já fiquei feliz com tanta coisa besta. Com a música certa, na hora certa. Com a foto de alguém que quero bem. Com a foto de alguém que não conheco, mas também quero bem. Com o silêncio. Com a bagunça. Com um bom bate-papo. Com cerveja no bar. Com bar bacaninha, com boteco. Com esporte, com preguiça. Com correria e com indolência.
As vezes, só de imaginar algumas situações já fico feliz. Assim mesmo, coisa meio romântica, meio boba... E que amigos machistas não saibam, claro...
E com o tempo, vou aprendendo que a felicidade vem de não procurar receita. Vem de se permitir viver o que aparece na vida. Com bom senso, sempre. Mas aproveitar, querer sorrir. Querer viver.
Ou viver eternamente em dúvida do que fazer para ser feliz.
Não dá pé, não tem pé nem cabeça Não tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça Não tem jeito mesmo Não tem dó no peito, não tem nem talvez
Ter feito o que você me fez, desapareça Cresça e desapareça Não tem dó no peito, não tem jeito Não tem coração que esqueça, não tem ninguém que mereça, Não tem pé, não tem cabeça Não dá pé, não é direito Não foi nada, eu não fiz nada disso e você me fez um Bicho de sete cabeças
Não dá pé, não tem pé nem cabeça Não tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça Não tem jeito mesmo Não tem dó no peito, não tem nem talvez
Ter feito o que você me fez, desapareça Cresça e desapareça Não tem dó no peito, não tem jeito Não tem ninguém que mereça, não tem coração que esqueça
Não tem pé, não tem cabeça Não dá pé, não é direito Não foi nada, eu não fiz nada disso e você fez um Bicho de sete cabeças
No deserto estão secas As pedras que no mar se molhavam A semelhança confunde o eremita que solitário demais Passou o tempo entregando-se à solitária memória Aqui a pedra seca Para o eremita não perdeu A qualidade húmida de poder Ter estado ao pé do mar.
Fiama Hasse Pais Brandão
Musicado por Adriana Calcanhotto: www.youtube.com/watch?v=-2d8I5Xxp_c
Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo Ser que preside e rege os outros seres, Que os encantos e a força dos poderes Reúne tudo em si, num só encanto?
Esse mistério eterno e sacrossanto, Essa sublime adoração do crente, Esse manto de amor doce e clemente Que lava as dores e que enxuga o pranto?!
Ah! Se queres saber sua grandeza, Estende o teu olhar à Natureza, Fita a cúp'la do Céu santa e infinita!
Deus é o templo do bem. Na altura Imensa, O amor é a hóstia que bendiz a Crença, ama, pois, crê em Deus, e... sê bendita!
Sou sua noite, sou seu quarto Se você quiser dormir Eu me despeço Eu em pedaços Como um silêncio ao contrário Enquanto espero Escrevo uns versos Depois rasgo
Sou seu fado, sou seu bardo Se você quiser ouvir O seu eunuco, o seu soprano Um seu arauto Eu sou o sol da sua noite em claro, Um rádio Eu sou pelo avesso sua pele O seu casaco
Se você vai sair O seu asfalto Se você vai sair Eu chovo Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário Sou eu o seu paradeiro Em uns versos que eu escrevo Depois rasgo
Link Musica: http://www.youtube.com/watch?v=1nLoY_Bd6m0
Os olhos de preferências grandes E de rotação pelo menos tão lenta quanto A da terra. (Vinícius de Morais) O semblante, redondo Sombrancelhas arqueadas Negros e finos cabelos Carne de neve formadas. (Thomaz Antônio Gonzaga) Simpáticas feições , cintura breve, Graciosa postura, porte airoso, Uma fita, uma flor entre os cabelos. (Gonçalves Dias) Verde carne, tranças verdes. (Garcia Lorca) Lábios rubros de encanto Somente para o beijo. (Junqueira Freire) A sua língua, pétala de chama. (Cândido Guerreiro) Nos lobos das orelhas Pingentes de prata. (Gonçalves Crespo) Mão branca, mão macia, suave e cetinosa Com unhas cor de aurora e luz do meio dia Nas hastes cor-de-rosa. (Luiz Delfino) Os braços frouxos, palpitante o seio. (Casimiro de Abreu) O dorso aveludado, elétrico, felino Porejando um vapor aromático e fino. (Castro Alves) Seu corpo tenha a embriagues dos vícios. (Cruz e Souza) Com mil fragrâncias sutis Fervendo em suas veias Derramando no ar uma preguiça morna. (Teófilo Dias) Nadegas é importantíssimo Gravíssimo porém é o problema das saboneteiras Uma mulher sem saboneteiras É como um rio sem pontes. (Vinícius de Morais) As curvas juvenis Frescas de ondulações de forma florescente Imprimindo nas roupas um contorno eloqüente. (Álvares de Azevedo) Qualquer coisa que venha de ânsias ainda incertas Como uma ave que acorda e, inda mal acordada, Move, numa tonteira, as asas entreabertas. (Amadeu Amaral) De longe, como Mondrians Em reproduções de revistas Ela só mostre a indiferente Perfeição da geometria. (João Cabral de M. Neto) Que no verão seja assaltada por uma Remota vontade de miar. (Rubem Braga) A graça da raça espanhola A chispa do Touro Miura Tudo que um homem namora Tudo que um homem procura. (Paulo Gomide) E todo o conjunto deve exprimir a inquietação e espera. Espera, eu disse? Entao vou indo, que senão, me atraso!
*Vinícius que me perdoe plagiá-lo. Mas beleza é fundamental.
Eu te desejo não parar tão cedo Pois toda idade tem prazer e medo E com os que erram feio e bastante Que você consiga ser tolerante Quando você ficar triste Que seja por um dia, e não o ano inteiro E que você descubra que rir é bom, Mas que rir de tudo é desespero.
Desejo que você tenha quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor pra recomeçar Pra recomeçar.
Eu te desejo, muitos amigos Mas que em um você possa confiar E que tenha até inimigos Pra você não deixar de duvidar Quando você ficar triste Que seja por um dia, e não o ano inteiro E que você descubra que rir é bom, Mas que rir de tudo é desespero.
Desejo que você tenha quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor pra recomeçar Pra recomeçar.
Eu desejo que você ganhe dinheiro Pois é preciso viver também E que você diga a ele, pelo menos uma vez, Quem é mesmo o dono de quem. Eu desejo que você tenha quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor pra recomeçar Pra recomeçar.
Link música: http://www.youtube.com/watch?v=aaeRGCyxtMk